Aquífero Campina de Faro

Portugal

Informação sobre aquífero

Localização
Algarve central, sul de Portugal (Portugal)
Tamanho
86.4 km²
Utilização da água
Turismo, agricultura, abastecimento doméstico e rega de jardins.

Descrição

O sistema aquífero da Campina situa-se no Algarve, uma das regiões turísticas mais importantes de Portugal, assim como uma das mais secas. A precipitação média anual na área é de 550 mm e as taxas de recarga variam entre 15 e 20%, o que resulta numa recarga natural de 10hm3/ano.

O sistema aquífero Campina de Faro é composto por dois subsistemas separados pela ribeira de São Lourenço. O sistema mais ocidental do aquífero (Vale do Lobo) é uma área com grande desenvolvimento residencial, agrícola e turístico, famosa pelos seus campos de golfe, e tem mostrado tendências decrescentes nos níveis das águas subterrâneas ao longo dos últimos 20 anos, e consequentemente, em risco de intrusão salina. 

No subsistema de Faro, a Este, a agricultura tem sido desde há séculos o principal uso do solo. No passado dominada por cultivos mediterrânicos de sequeiro, a agricultura tornou-se mais intensiva com a expansão do regadio durante a década dos 1970’, devido ao desenvolvimento de bombas capazes de extrair água do aquífero mais profundo. Atualmente, os cultivos mais dominantes (todos de regadio) são os citrinos, abacateiros, legumes e frutos vermelhos. O uso intensivo de fertilizantes desde os anos 1970 tem sido identificado como a origem da contaminação do aquífero com nitratos que perdura até o dia de hoje (apenas no sub-sistema Este).

Outras fontes de poluição identificadas : Aeroporto Internacional de Faro, várias estações de tratamento de águas residuais, um aterro (fontes pontuais); várias estradas e autoestradas, linhas ferroviárias e um porto comercial (fontes móveis); agricultura e fossas sépticas (difusas); intrusão de água do mar.

Como consequência disto, as águas subterrâneas têm um importante contributo como vetor para o transporte de nutrientes para a lagoa costeira protegida Ria Formosa.  As estimativas iniciais da contribuição de azoto para toda a bacia hidrográfica da lagoa via água subterrânea, situam-se na ordem dos 700 toneladas de azoto/ano.

Localização e extensão

O sistema aquífero da Campina de Faro é limitado a Norte pelos depósitos menos permeáveis do Cretácico, a Leste pelo sistema de aquíferos de Quelfes e a Oeste pelo aquífero de Quarteira.

Estes aquíferos parecem conectados. A principal direção de fluxo é de Norte para Sul e a descarga principal do aquífero ocorre na lagoa costeira protegida, Ria Formosa.

Desafios

  • Envolver os atores locais num processo de co-produção de soluções, com um novo paradigma de investigação. A cooperação atual entre usuários, autoridades gestoras e investigadores é limitada, mas as soluções devem envolver vários setores e instituições.
  • Co-criar soluções locais e baseadas na natureza que incluíam o aquífero, com atores locais e usando o conhecimento hidrogeológico mais recente. Isto é um desafio no sentido em que contradiz o paradigma dominante muito focado na água superficial e construção de infraestruturas.
  • Aumentar a partilha de informação entre usuários sobre volume de extrações e práticas de uso do aquífero.
  • Incerteza sobre o comportamento do aquífero no que diz respeito a interconexão entre aquíferos, localização da frente salina, localização de extrações dos pequenos usuários privados, setor turismo e agricultura

Oportunidades

  • Uma maior perceção de urgência entre os agentes turísticos e agricultores e autoridades gestoras. Um novo episódio de seca está a diminuir os níveis piezométricos, e a colocar sobre a mesa a necessidade de implementar uma solução urgente e integral para a escassez de água.
  • O aumento dos custos das extrações da água estão a promover o interesse na otimização do uso da água. Os utilizadores estão interessados em conhecer melhor as dinâmicas do aquífero.
  • A melhor compreensão sobre o sistema abre uma oportunidade para explorar o desenvolvimento de um novo modelo de gestão das águas subterrâneas. Em particular, este caso irá focar no aumento de conhecimento sobre:
  1. Pressões humanas que atuam sobre o sistema aquífero,
  2. Funcionamento hidráulico
  3. Estado quantitativo e qualitativo
  4. Relações com corpos de água em conexão hidráulica.
  • O maior envolvimento dos utilizadores e cidadãos na investigação aumentará consideravelmente a adoção de boas práticas no que respeita ao uso e a gestão do aquífero. Os modelos matemáticos podem então ser utilizados para ajudar a quantificar indicadores sobre o aquífero, os quais serão posteriormente disponibilizados às partes interessadas. Os impactos das diferentes alternativas de gestão serão discutidos em contexto participativo.

O projeto  contribuirá ainda para:

  • Capacitação técnica dos stakeholders ,
  • Melhorar a informação (qualitativa e quantitativa) disponível através de informação recolhida pelos sistemas de ICTs, combinados com a ciência dos cidadãos.
  • Detetar estrangulamentos e sobreposições nos processos de decisão, para co-construir e melhorar a tomada de decisão em vista de uma gestão sustentável
  • Desenvolver indicadores quantitativos para relações cíclicas de causa-efeito entre forças motrizes
  • Desenvolver  modelos matemáticos  podem então ser utilizados para ajudar a quantificar estes indicadores, os quais serão posteriormente que serão disponibilizados às partes interessadas. Os impactos das diferentes alternativas de gestão serão discutidos em contexto participativo. O envolvimento das partes interessadas aumentará consideravelmente a probabilidade da sua adoção

 

Enquadramento legal

  • A Agência Portuguesa do Ambiente é a atual responsável pela gestão do aquífero, o que inclui  a monitorização do estado aquífero, o licenciamento de novos furos e a  elaboração de planos de gestão.
  • Tendo em conta o mau estado quantitativo do aquífero no subsistema Oeste, a Agência suspendeu a emissão de novas licenças de exploração de águas subterrâneas desde 2019. No entanto, a monitorização institucional é limitada pela capacidade física instalada.
  • A gestão  do sistema aquífero da Campina de Faro está atualmente separada  em dois subsistemas: o subsistema de Faro (a leste) e o subsistema de Vale de Lobo (no oeste). De acordo com o último Plano da Bacia Hidrográfica das Ribeiras do Algarve, o Campina de Faro está qualificado como em mau estado qualitativo no subsistema Faro, e em mau estado quantitativo no subsistema Vale do Lobo.
  • De referir ainda que o Campina de Faro integra a zona vulnerável de nitratos, gerida pela Direcção de Agricultura e Pesca do Algarve.

Actividades

  1. Entrevistas a diversos atores locais (utilizadores, peritos, gestores)  para o desenho do processo de investigação participativo, para avaliar as suas necessidades quanto a informações sobre o aquífero, a sua predisposição a usar uma app de telemóvel para partilhar informação bem como definir locais para a instalação de novas sondas de medição.
  2. Elaboração de um relatório sobre as características hidrológicas, socioeconómicas, e político-institucionais do Campina de Faro.
  3. Construir relações de confiança com os atores locais e identificar potenciais participantes de um  focus group (que acompanhará todo o projeto).
  4. Adiado pelas restrições do Covid: Workshop inicial dirigido a público abrangente (usuários, gestores e cidadãos) para apresentar o projeto, contextualizar os objetivos, e iniciar a discussão sobre as suas necessidades de informação.
  5. Plano de contingência frente ao Covid: webinars e discussões online sobre temas pertinentes em relação ao aquífero e sua governança.
  6. Melhoria da monitorização do aquífero através da instalação de sondas automáticas em furos selecionados, que será complementada com medições manuais pelos próprios utilizadores num futuro próximo.
  7. Desenvolvimento e melhoria dos modelos numéricos de escoamento subterrâneo para todo o aquífero ou áreas específicas mais sujeitas a intrusão salina.

Mais informações

Se precisar de mais informações ou detalhes sobre este caso, por favor contacte-nos